Artigo escrito por Dr. Ricardo Di Bernardi.
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Umas das objeções frequentemente apresentadas à tese reencarnacionista é a suposição de que as pessoas, ao aceitarem a pluralidade das existências, possam se tornar acomodadas com relação à sua transformação interior. O fato de admitirem novas oportunidades inibir-lhes-ia o impulso ao progresso espiritual. A responsabilidade, podendo ser adiada, levaria os seres humanos, falhos por natureza, a transferirem para outras vidas os deveres que se apresentassem na romagem atual.
Consideram, alguns críticos, que a existência de uma só vida, ou seja, a unicidade ao invés da pluralidade das existências, não permitiria este estímulo à preguiça espiritual. Dizem-nos que não há como postergar para amanhã o que se pode fazer hoje, apenas hoje.
Esta objeção é comumente mencionada ao dialogarmos com adeptos de determinadas confissões religiosas. Raciocinemos, comparativamente, colocando as duas teses opostas lado a lado.
Pela crença na vida única, considerando a existência da alma e a sobrevivência da mesma após a morte biológica, haveria duas hipóteses no que concerne à destinação das criaturas. Ou seriam “salvas” ou estariam “condenadas” a uma punição eterna ou extremamente longa até ao chamado “dia do juízo final.”
Para os religiosos que assim pensam, a salvação estaria disponível até o último suspiro da existência terrena. Sempre haveria tampo do “pecador” se arrepender de seus atos e “aceitar” Jesus no último instante, passando a ser digno das recompensas futuras e eternas, independentemente de erros anteriores.
Pela ótica da tese reencarnacionista, o que nesta vida estamos semeando, colheremos no futuro, e não só nesta existência, como também, nas vidas posteriores.
A responsabilidade pelos nossos atos torna-se muito maior, já que não há uma ideia salvacionista, porém uma concepção de evolução e colheita obrigatória. Não há, portanto, espaço para qualquer postura de acomodação ou preguiça.
Se nos propusermos realmente a examinar, ambas as hipóteses, de forma imparcial e desapaixonada, parecer-nos-á bastante claro que a pluralidade das existências, ao contrário da concepção da vida única, exige muito amor e conscientização no que diz respeito as nossas imperfeições a serem corrigidas.
Ao invés de transferirmos a responsabilidade para outros que atuariam como representantes da divindade, ou esperarmos um perdão milagroso que apaga as nódoas da maldade mais encardidas e repugnantes, fruto de atos vis de nosso espírito, há um estímulo constante para nos reformarmos intimamente rumo à sabedoria e ao amor universal.
A concepção reencarnacionista ensina que não existe a “salvação”- existe a evolução. Não há almas “condenadas” mas transitoriamente enfermas. A mensagem cristã de “nenhuma das ovelhas se perderá”, ajusta-se plenamente na tese da pluralidade das existências dando oportunidade a que todos atinjam a felicidade. Permite atribuir facilmente a Deus a totalidade do amor e justiça.
No entanto, apesar do destino final de todas as criaturas após inúmeras reencarnações ser a perfeição, estamos sujeitos a cada momento às dolorosas consequências de nossos desatinos. Não existem, portanto, milagres salvacionistas que nos levem preguiçosamente a um paraíso, independentemente de uma vida pouco útil ou perniciosa.
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Publicado também:
Jornal Espírita Nova Luz – Florianópolis SC janeiro /fevereiro 2001
Jornal Espírita – Portugal – Setembro 1998
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Sites do autor:
http://www.icefaovivo.com.br/
http://www.ricardodibernardi.com.br/
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