Por Valquíria Ortiz Tavares Costa
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Muitas pessoas se perguntam se a nossa sociedade está passando por uma crise em razão do aumento no número de casos de violência, e, atualmente, vem chamando particular atenção as tragédias provocadas pelo bullying.
Quem não se lembra de Columbine e mais recentemente o tiroteio ocorrido num colégio de Goiânia em que um adolescente dispara diversos tiros na escola matando 2 e ferindo 4 colegas e atribuindo ao bulllying a motivação do crime.
Mas o que é o bullying?
A lei de combate à intimidação sistemática, lei nº 13.185/15 , conceitua o bullying como sendo toda violência física ou psíquica que resulta numa intimidação da pessoa, acarretando dor, sofrimento e sentimento de humilhação. A ação de intimidação é repetida, habitual, não se tratando de um evento isolado. Pouco importa o número de participantes no bullying e não é necessário um motivo.
O bullying se caracteriza em diversas práticas como bater, xingar, dar apelidos pejorativos, isolar, espalhar boatos e mentiras e até mesmo fazer grafites (desenhos) que ridicularizem a pessoa, além de brincadeiras preconceituosas. Pode também ter cunho sexual.
Se essas práticas ocorrem em ambiente virtual, temos o cyberbullying onde é comum postar fotos adulteradas, perfis falsos, tudo no intuito de denegrir a imagem da pessoa que sofre o bullying.
Apenas para exemplificar, vamos lembrar de algumas cenas do filme Extraordinário. O menino possui uma deformidade facial e vai pela primeira vez à escola. Lá fica isolado na hora do recreio, nenhum colega senta ao seu lado e todos evitam ter qualquer contato, pois espalhou-se um rumor de que tocar nele fazia a pessoa adoecer. O seu colega de turma entrega todos os dias um desenho de um monstro com seu nome e também cola bilhetes de mesmo teor em seu armário.
Vemos nessas condutas várias práticas de bullying: isolamento social, boato espalhado para denegrir a pessoa e os desenhos depreciativos. Todos esses eventos se repetem e a criança não quer ir mais à escola.
Mas também vemos essas práticas no dia a dia, quando no trabalho uma pessoa dá risada quando a outra começa a falar, de forma reiterada, fazendo com que a pessoa passe a se sentir constrangida.
Outro exemplo bastante comum é deixar isolado um companheiro de trabalho. Todos temos direito a escolher nossas amizades, mas no ambiente de trabalho temos de tratar de forma cordial a todas as pessoas e manter um diálogo respeitoso com a equipe de trabalho.
A grande diferença entre uma brincadeira e o bullying é, portanto, a intenção.
Na brincadeira todos se divertem, é algo positivo e fortalece os laços de amizade e respeito.
No bullying as pessoas se divertem às custas do sofrimento emocional daquele que é objeto dessa prática.
E como a violência física ou psicológica se repete, a pessoa passa a temer o contato com essas pessoas e o local onde o evento ocorre, desenvolvendo fobias, depressão, e muitos outros transtornos psicológicos.
A lei de combate à intimidação sistemática atribui aos estabelecimentos de ensino, clubes e associações recreativas o dever de prevenir e combater o bullying.
A lei é expressa em recomendar que se evite a punição, buscando outras formas e mecanismos de responsabilização que contribuam para a educação da pessoa, pois mais interessa despertar a consciência daquele que pratica o bullying para obter uma mudança de seu comportamento do que a simples punição.
O objetivo da lei é ensinar o sentimento de empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro e o respeito às outras pessoas, em especial às diferenças, traduzida na aceitação do outro da forma como ele é e não da forma como gostaríamos que ele fosse.
Keaton Jones[1] ao falar sobre o bullying, nos ensina, com a sabedoria dos seus 11 anos de idade e uma alma compreensiva que: “as pessoas que são diferentes não precisam ser criticadas por isso” e reforça “ não gosto que façam isso comigo e, sem dúvida, não gosto que façam isso com outras pessoas porque não está certo”.
Ermance Dufaux[2], por meio do médium Wanderley Oliveira, nos ensina que “a beleza da vida está no ato de todos serem diferentes e terem algo de novo a nos ensinar. Compete-nos nos abrir para esse mundo novo de vivências altruístas e ricas de diversidade. É o desafio de conviver bem com a particularidade alheia, sem querer, arrogantemente, adaptá-la à nossa visão pessoal.”
E continua: “O mundo, sem dúvida, será um lugar melhor quando prezarmos a diferença alheia como sendo o seu direito inalienável de ser. E mesmo que não concordemos com a singularidade do outro, cabe-nos, por Dever Universal, proceder no amor com inalterável respeito pelas diferenças, em qualquer tempo e lugar.”
Concluindo: “Diferenças não são defeitos!”
Por isso precisamos nos perguntar: como está a nossa capacidade de amar?
“A Lei de Amor que vibra no universo é o impulso divino que determina o destino inevitável de todos nós, cuja essência é a solidariedade em quaisquer condições. Estender a mão e soerguer, amparar e aceitar.”[3]
Se você está passando por essa situação, de bullying, seja na escola ou no trabalho, peça ajuda a seus pais, amigos e familiares. Não é o momento de guardar para si essa situação.
E não é demérito nenhum pedir ajuda, pelo contrário, esse é o momento em que mais precisamos daqueles que nos amam. Se por alguma razão você não quer contar para as pessoas próximas, procure a ajuda de um profissional de psicologia. Ele saberá te ajudar e garantirá a sua privacidade. Também é fundamental a ajuda espiritual, pois Deus está com você, em qualquer momento de sua vida, mas nós precisamos do fortalecimento que o tratamento nos oferece.
A forma como o outro te trata reflete apenas o que ele é. Você é um ser divino, amado e respeitado, tenha a certeza disso!
De nossa parte, adotemos a máxima de Mateus (7:12) : Faça ao próximo o que gostaria que fizessem por você, pois “a vida é trem-bala, parceiro. E a gente é só passageiro prestes a partir”.[4]
Escrito por Valquíria Ortiz Tavares Costa
[1] Keaton Jones aluno americano que desabafou num vídeo postado na internet narrando todo o sofrimento que vem passando na sua escola. Para ver o vídeo, acesse http://odia.ig.com.br/mundoeciencia/2017-12-12/celebridades-prestam-solidariedade-a-menino-vitima-de-bullying-nos-eua.html
[2] NUNES, Wanderley. Pelo espírito de Ermance Dufaux. Diferenças não são Defeitos: a riqueza da diversidade nas relações humanas. Série Harmonia interior. Editora Dufaux. Belo Horizonte. 2011. Pág. 44/45
[3] Op. Cit. Pág. 08
[4] Música Trem-bala cantada por Ana Vilela
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