Por Orson Peter Carrara.
Já são conhecidos, ao longo do tempo, os benefícios da mediunidade em prol da humanidade. Inicialmente disciplinada e orientada pela Doutrina Espírita – especialmente pelas lúcidas instruções contidas em O Livro dos Médiuns, que em 2011 alcançou seus 150 anos de publicação – e depois pelas bênçãos das psicografias consoladoras em cartas daqueles que partiram antes aos amores que ficaram nas saudades da ausência física.
Chico Xavier, exemplar medianeiro, psicografou milhares de cartas consoladoras. Muitas delas se transformaram em livros, o que também ocorre com Divaldo e outros médiuns comprometidos com o bem preconizado pelo Espiritismo. O fato real é mesmo que, seja no conforto moral ou nas instruções doutrinárias, o correio da mediunidade se traduz em extraordinário instrumento ou ponte entre o mundo dos espíritos e aquele em que nos situamos, dos encarnados, de imensos desafios gradativos de aperfeiçoamento. Instrumento que educa, ensina, orienta, conforta, explica e aproxima. Basta pensar e ampliar o assunto nos socorros prestados a espíritos dementados ou desequilibrados, sofredores de toda ordem e atendidos pelos benefícios das chamadas reuniões mediúnicas e de desobsessão, como conhecidas. Quantos dramas expostos e atendidos? Impossível mensurar. Todavia, simultaneamente, quanto aprendizado aos participantes encarnados?
É mesmo um imenso caminho de bênçãos e aprendizados pela mediunidade.
Há que se considerar, entretanto, a responsabilidade envolvida e a necessidade permanente de estudo e disciplina com a questão. A obra sesquicentenária, mais do que nunca, precisa ser divulgada, estuda, conhecida, para evitar-se os desvirtuamentos próprios e sempre decorrentes da falta de estudo e orientação trazida pelos códigos doutrinários.
Como empenhar-se em tarefa de tal gravidade sem conhecimento e perseverança? É o desafio a que somos chamados, como pesquisadores, estudiosos, médiuns, dirigentes, palestrantes, escritores e mesmo na condição comum de adeptos do Espiritismo que solicita estudemos seu conteúdo para não cairmos no fanatismo e no misticismo, tão prejudiciais e incoerentes com a salutar prática e vivência do Espiritismo.
Mas nosso objetivo maior na presente abordagem é mesmo destacar o aspecto consolador da mediunidade. Para isso busco o livro Maior que a vida, da Lucy Dias Ramos, de edição da Federação Espírita Brasileira. Lucy é conhecida articulista espírita e autora com vários livros publicados e radicada em Juiz de Fora-MG. Lucy viveu a experiência da desencarnação muito próxima do marido e da filha mais velha.
No capítulo 26 da citada obra a autora, como em toda obra, traduz seus sentimentos com relação à chamada “perda familiar” que o Espiritismo explicou com racionalidade sobre temporalidade da questão da separação de entes-queridos. Mas Lucy abre seu coração ao leitor com considerações muito confortadoras para todos os casos de separação que se verificam todos os dias no planeta, face à nossa condição de seres imortais habitando corpos perecíveis…
Nesse propósito ela inclui no livro a psicografia de sua filha Sandra, transmitida à médium Suely Caldas Schubert em agosto de 2009. O espírito dirige-se ao marido, aos filhos e demais familiares, à própria mãe e aos amigos mais próximos com o perfil próprio da serenidade e do conhecimento que se depara com a realidade palpável da imortalidade, condição de todos nós, os filhos de Deus. Em determinado trecho, destaca: “(…) vocês é que estão viajando, eu regressei da viagem, estou de volta ao Lar (…)” . Interessante observação essa a merecer nossa reflexão diante da morte. E afirma depois: “(…) Os laços afetivos são indissolúveis e hoje tenho nova dimensão dos sentimentos nobres, dos valores que já procurava cultivar, mas que agora são a motivação maior de minha vida, porque não preciso mais manter as preocupações da vida física, com suas dificuldades, bloqueios, falta de tempo, enfim, uma série de situações que nos tiram do foco central de nossa vida de Espíritos imortais (…)”.
Quase concluindo, dirige-se ao marido: “(…) Carlos, estou a seu lado sempre que posso. Seu amor e dedicação iluminaram minha vida. (…)”; depois também aos filhos e diz aos irmãos: “(…) que saudades! Nosso querido pai os acompanha e ajuda-os a viver a vida, como aos netos e toda a família (…)”.
E tudo isso pelo correio da mediunidade, sublime instrumento de intercâmbio entre os afetos que não se esquecem. Notável mecanismo de educação e orientação para a humanidade. Como desconhecê-la ou desprezá-la? Não! É preciso mesmo estudar para entender seus mecanismos e uso coerente que traz bênçãos como essa, tão comum entre os seres que se amam…
Referida abordagem surgiu-me ao encontrar o comentário sobre o livro, produzido pelo amigo Rogério Coelho, de Muriaé-MG, e publicado no boletim LUZ NO CAMINHO, da Sociedade Muriaeense de Estudos Espíritas, nr. 163, de janeiro de 2011.
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