Orson Peter Carrara – [email protected]
As lições de Jesus comparam-se a pequeninas sementes, todas elas contendo substâncias que se multiplicam inesgotáveis à nossa visão e raciocínio, abrindo horizontes encantadores de emoção, sabedoria, esperança. Por isso é necessário ir além das palavras no estudo e reflexão das parábolas, ensinos, exemplos, convites e apreciações trazidos nas anotações dos evangelistas.
Como se sabe Jesus nada deixou escrito, mas marcou nossas almas com suas lições inesquecíveis. Com os recursos precários de registro e comunicação da época em que viveu, seus ensinos e parábolas foram anotados pelos chamados evangelistas, cujos textos atravessaram o tempo e chegaram até nós, apesar das dificuldades de tradução e mesmo multiplicação de tais conteúdos, inclusive com erros e deturpações introduzidas, seja pela precariedade da época, seja por outros interesses. A parte moral, todavia, é inatacável.
Muitos autores dedicados se debruçaram sobre esses textos para estuda-los a fundo, retirando a essência dos ensinos e nos fazendo perceber continuamente o tesouro de lições imorredouras a nosso dispor, como autênticos roteiros de vida para nossa felicidade.
Entrevistamos um desses estudiosos, o jovem Artur Valadares, de Patrocínio (MG) e cursando doutorado em São Carlos (SP). A entrevista, na íntegra, ainda inédita, é muito rica de conteúdo. Selecionamos duas perguntas e suas respectivas respostas para a coluna da semana:
3 – As histórias e relatos, referências e exemplos anotados pelos evangelistas trazem algo mais além das letras? Como? Por que?
Sim, primeiro porque uma das características da própria linguagem e cultura semitas, bem como das tradições rabínicas da época, era a transmissão dos ensinamentos de maneira intuitiva e simbólica, um reflexo da tradição milenar de propagação oral do conhecimento. Além disso, precisamos levar em conta a inspiração espiritual do Plano Superior durante o processo de redação dos textos do Evangelho, como Emmanuel nos esclarece no livro A Caminho da Luz. Com o auxílio das obras básicas e subsidiárias da Doutrina Espírita, em especial da coleção Fonte Viva de Emmanuel/Chico, podemos perceber de maneira mais profunda a dimensão da riqueza espiritual oculta por trás dos véus da letra. Um dos maiores colaboradores para este tipo de estudo foi o querido confrade, ex-presidente da UEM, Honório Onofre de Abreu. Ele organizou um livro sobre o tema, intitulado Luz Imperecível, que estabelece as bases para esta metodologia de estudo, com vários exemplos práticos de como se extrair da letra o espírito imperecível dos ensinamentos de Jesus.
4 – Por que Jesus usou essa didática? O que ele desejava alcançar?
Como diz o próprio Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, os pontos essenciais da doutrina do Cristo sempre foram claros e explícitos, como por exemplo a posição da caridade e da humildade como elementos fundamentais no processo de iluminação espiritual. Os demais pontos foram trabalhados por Jesus, pelo menos para o grande público, de maneira velada, pois ele sabia que só o tempo poderia trazer uma maturidade mais adequada para a compreensão de determinadas verdades espirituais que necessitavam de um desenvolvimento científico e filosófico do espírito humano ainda a ser realizado. No entanto, todas essas verdades estão inseridas de maneira alegórica e simbólica em seus ensinamentos e cada espírito pôde, a seu tempo, compreendê-las se para tal se esforçou. São como sementes, aguardando o momento propício para a germinação.
O texto integral da entrevista, com suas perguntas e respostas, será publicado pela revista eletrônica O CONSOLADOR – www.oconsolador.com.br – em data a ser definida, mas antecipamos aos leitores duas das questões e suas lúcidas respostas.
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