Artigo escrito pelo Dr. Alexandre Perez.
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Penso que os adolescentes gostam bastante das novidades, não é mesmo? Principalmente daquelas que envolvem desafios e provas de coragem. E parece que é o caso, pois quase todos exageram os relatos de medo e de sensações eletrizantes e misteriosas que envolvem a brincadeira, criando um clima de status avantajado para quem delas já participou. É mais um meio, como tantos outros, de provar coragem, desafios de regras, e ganhar status frente aos outros. E, depois que a mídia passou a dar importância aos fatos relatados, este status aumentou, juntamente com a promessa de sensações e experiências interessantes. Nada mais natural…
Em primeiro lugar, admitimos, como espíritas, que os espíritos estão por toda a parte, pois nada mais são que as pessoas que já não possuem mais seus corpos físicos, e que prosseguem habitando os diferentes planos de vida espiritual.
Em segundo lugar, cremos que cada qual leva para a existência espiritual os mesmos caracteres morais que possuía quando estava na Terra, prosseguindo em seu desenvolvimento moral, ao longo dos seguidos estágios cíclicos, ora no plano espiritual, ora na Terra – o que conhecemos como reencarnações.
Parte daí a lógica dedução de que encontraremos ao nosso redor tanto espíritos que classificaríamos como ‘bons’, bem intencionados, amigos, familiares, mentores, etc; como também encontraríamos espíritos que classificaríamos como ‘maus’, levianos, brincalhões, trapaceiros, vulgares, etc.
Outro fato a se compreender é que todos os seres humanos possuem a capacidade de se comunicar com os espíritos desencarnados, a chamada mediunidade natural, mas que, via de regra é bastante limitada e passa quase sempre despercebida. Mas alguns raros indivíduos podem, de fato, desde o nascimento, possuir determinadas características que favoreçam o intercâmbio, mesmo inconscientemente.
Assim, o perigo que vemos em tal brincadeira é a possibilidade de que um destes jovens realmente possua capacidade mediúnica suficiente para sofrer a influência de um espirito que possua más intenções. E, diga-se de passagem, estes espíritos são a grande maioria daqueles que estariam presentes nestas brincadeiras, já que os espíritos moralmente superiores dificilmente se envolveriam com tais leviandades.
Bem, penso que isso dependerá fundamentalmente das crenças e da filosofia religiosa destes pais e responsáveis, é claro.
No entanto, todo bom espírita sabe que o melhor caminho é a informação e o conhecimento fundamentado a respeito do assunto, numa linguagem que o jovem possa compreender, e que lhe forneça elementos suficientes para tirar suas próprias conclusões, num processo que conhecemos como aprendizagem significativa. Trocando em miúdos: explique o que é, o que pode acontecer, quais as consequências, e, se puder, seja o mais honesto possível. Impor o medo só trará mais curiosidade e ‘adrenalina’. Tratar como tabu ou ação proibida é menosprezar e desautorizar a natural curiosidade que os jovens possuem, e crer que isto bastará é ingenuidade de nossa parte, penso eu. Afinal de contas, os jovens também são seres inteligentes, queiram ou não.
Provavelmente isso mesmo: pânico, desmaio e convulsões – se é que realmente ocorreram – e que não fazem parte dos sinais característicos dos fenômenos mediúnicos, mesmo que desequilibrados; quanto mais dos fenômenos equilibrados!
Evocações de espíritos da forma como a brincadeira propõe eram muito comuns no mundo todo, principalmente entre os anos de 1840 a 1930, mormente nos Estados Unidos e Europa, através da famosa tábua owija – aquela que tinha os números e as letras desenhadas, e um triângulo de madeira que se mexia pela ação dos espíritos, formando frases. Hoje em dia este tipo de fenômeno, chamado de mediunidade de efeitos físicos, é raríssimo e se encontra em extinção. Por isso, acho muito difícil que os acontecimentos ocorridos em Manaus tenham sido provocados diretamente pela ação de espíritos. O mais provável é que ali se associaram o medo, o mito, o pânico, e, provavelmente, até mesmo uma epilepsia sem tratamento adequado!
Segundo a doutrina espírita, a única autoridade que os espíritos reconhecem é a autoridade moral, o que indica que qualquer tentativa espalhafatosa e sem profundidade nunca surtirá efeito, enquanto que a simples solicitação de pessoa moralmente equilibrada será suficiente, sem que possa restar medo ou receio de represálias por parte dos espíritos inferiores. Supondo-se a rara situação em que este tipo de comunicação com os espíritos realmente seja efetiva, basta que o responsável solicite sobriamente que o fenômeno cesse, pedindo aos espíritos que respeitem a impossibilidade e inconveniência de tal acontecimento. Não são necessários gestos ou rituais para isso, apenas a retidão moral.
Bem…, sem a presença de um médium a comunicação com os espíritos jamais ocorrerá, pois eles são imprescindíveis para o fenômeno. O que acontece é que nas situações positivas, os participantes não são conscientes de suas possiblidades, e, mesmo que haja entre eles um médium, isto acaba passando despercebido.
A mediunidade não é criação nem propriedade do espiritismo, pois os fenômenos mediúnicos existem desde que existe a humanidade. O único apanágio da doutrina espírita neste campo foi a sistematização científica, filosófica e religiosa do estudo, do desenvolvimento e da educação da mediunidade. Por isso, a doutrina espírita jamais incentivará o contato com os espíritos em semelhantes condições, tal qual propõe a brincadeira ‘Charlie, Charlie’, pois sabe que daí não advirão produtos mediúnicos verdadeiramente úteis e confiáveis. Qualquer candidato ao exercício da mediunidade consciente deve estudar anos e anos, aprofundadamente, a sua faculdade, suas possibilidades, seu próprio caráter, além de se comprometer permanentemente com o contínuo esforço de se melhorar moralmente dentro da proposta cristã.
Portanto, para aqueles jovens que realmente se interessam pela comunicação equilibrada e construtiva com os espíritos, indicamos a procura de fontes de conhecimento saudáveis e confiáveis, na certeza de que a realidade pode ser muito mais fantástica e desafiadora do que as situações improvisadas e perigosas a que estão se expondo.
1 Comentário
Quem pratica esta brincadeira não tem orientação espírita dentro dos lares. São os curiosos de plantão.
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